segunda-feira, 9 de maio de 2011

Conto - * O Vampiro Da Guarda * - por: Thiago Assoni


  Do alto daquele prédio eu assistia o movimento viciado da cidade de São Paulo. Os postes que iluminavam as calçadas em pequenos intervalos, as pessoas que nunca paravam, os faróis dos carros que também iluminavam e refletiam no asfalto molhado... A São Paulo como todos conhecem.
  Ao meu lado, Yansumi observava tudo em silêncio. A jovem Oriental, que mais parecia uma personagem retirada de um desses Mangás, era iniciante, estava há pouco vivendo sua Morte na Penumbra. Ali, comigo, ela estava apenas para observar...
  O que já era de costume, deixe-me perder no vai e vem da Metrópole. Em meio a tanto movimento, percebi o momento em que uma moça apressou o passo. Ela abraçava sua bolsa e caminhava assustada.
  Ignorei-a e voltei minhas atenções para a noite. Porém, por mais que eu não quisesse me atentar àquela jovem que parecia amedontrada, já me era tarde. Sua voz falava dentro de minha cabeça, eu podia ouvir seus pensamentos...
  -“Deus... Me ajude!”.
  Assim sendo, procurei com os olhos a tal moça. Yansumi percebeu e olhou também. Vimos a tal andando rápido e olhando constantemente para trás. Ela fugia de alguém... Procurei com os olhos quem poderia ser e logo encontrei: Dois rapazes a seguiam...
  Ela estava com medo, e deveria estar mesmo! O que se passava na mente deles era realmente medonho! Roubar, estuprar, matar... Talvez não nessa ordem...
  Saltei para o prédio vizinho e me coloquei de maneira com a qual eu pudesse ver a rua além da esquina que ela virou. Por ordem minha, Yansumi continuou onde estava.
  A moça tentava escapar, mas o rapaz que vestia uma blusa azul correu até ela. Assustada, ela jogou a bolsa e correu também, mas ele foi mais rápido e a levou para um beco entre os prédios...
  O outro rapaz, que vestia uma jaqueta preta, parou em frente ao beco e eu vi o exato momento em que a lâmina brilho ao encontrara Luz do poste... Uma faca, talvez...
  A moça teve a boca tampada pela mão do rapaz de Azul. O da jaqueta foi indo em direção aos dois dentro do beco... E eu ali em cima, assistindo toda a cena...
  - Por favor... - a moça tentava falar. - Me deixem em paz!
  Ela falava baixo, mas eu ouvia tudo! E eu ouvia também Yansumi, que estava desesperada com tudo aquilo. Olhei para a Oriental e a tranqüilizei com um gesto de mão... Eu pedia para ela esperar...
  - Vamos deixar, querida... - o que a segurava riu.
  - Com certeza vocês vão deixá-la mesmo!
  Os três procuravam pela voz que parecia ter surgido do nada.O da jaqueta, que tinha a lâmina em mãos, parecia o mais nervoso. Eles ouviam a voz mas não sabiam de onde vinha...
  - Larguem-na e saiam daqui!
  O de Azul, que estava com a moça, usou-a como escudo e riu nervoso...
  - Aparece aê, oh Batiminho...
  Não sei como foi receber o golpe, mas vi a tal lâmina voar longe e o corpo do que estava com a jaqueta caiu morto no chão, com o pescoço quebrado.
  Meu sorriso com certeza foi assustador. Meus caninos eram anormais e meus olhos brilhavam escarlate, o vermelho tradicional...
  - O que é isso?
  O de Azul estava realmente muito assustado.
  - Você ainda pode viver!
  Eu sentia o cheiro dele... MEDO!
  - Bonita a lente, BAT-DRAG... - ele tentava manter o ar superior, mas já não estava mais com o controle da situação. - O que mais tem aí? Um batom biônico?
  - Sinto muito por você...
  Com certeza ele nem reparou o momento em que meu punho o acertou. Finalmente a moça se viu livre dele e correu para um outro canto.
  O rapaz estava atordoado, mas ainda assim sacou a arma e apontou para mim...
  - Fim de linha, gata negra... Vai morrer!
  E ele atirou! Meu corpo tombou e caiu, o que fez ele sorrir. Ele riu alto e eu pude ouvir o choro da moça, que correu dali. Ainda rindo, o rapaz foi até onde eu estava e se abaixou perto de mim, dando-me vários tapas no rosto...
  - Imbecil! - ele ria...Desesperado. - Morreu!
  Mas algo de errado aconteceu... Para ele!
  Minha mão segurou o pescoço dele e eu vi em seus olhos que o ar começou a lhe faltar...
  - Realmente, meu caro... - eu levantei e o levantei junto, tirando-lhe os pés do chão. - Morri mesmo... Há alguns anos!
  Com a outra mão, quebrei-lhe o pescoço e joguei seu corpo morto ao chão. Yansumi chegou ao meu lado nesse momento...
  - Seja rápida! Faça o que tem pra fazer e volte logo para casa...
  Deixei a Oriental ali e fui encontrar a tal moça...

* * * *


  As mãos trêmulas tentavam encontrar a chave certa para abrir a porta do apartamento. Tamanho era seu nervosismo que as chaves caíram da sua mão... Mas antes que o molho de chaves chegasse ao chão, eu o peguei...
  - É essa aqui! - eu entreguei a chave exata para ela.
  Ainda assustada, a moça iria gritar e correr, mas eu a segurei junto de mim e calei sua boca com minha mão...
  - Calminha aí, mocinha... - eu disse, sério. - Eles não vão mais voltar... Nunca mais!
  Senti que ela relaxou o corpo. Ainda estava nervosa, mas eu sabia... Ela não correria e nem gritaria mais... Assim sendo, eu a soltei.
  - O que você fez com eles?
  Olhei bem para os olhos dela... Eram lindos olhos, aqueles. Não era preciso ela saber a verdade.
  - Não se preocupe... Vai ficar tudo bem agora!
  - E você? - ela perguntou, bem mais calma agora. - Quem é?
  - Sou Tales!
  Eu fiz mesura e ela sorriu.
  - Meu Anjo da Guarda!
  - Não exatamente...
  Eu retribuí o sorriso. Ela virou-se para colocar a chave na fechadura da porta e, quando virou de volta, eu não estava mais ali.


* * * *


  Cheguei em meu apartamento e encontrei Yansumi mais corada, mesmo ela sempre tendo sido pálida. Ela não me perguntou nada, apenas chorava. Mas, naquele momento, eu pouco me importava com Yansumi, pra ser bem sincero, até comigo mesmmo. 
  O belo rosto daquela moça não me saía da mente. E, por mais que eu quisesse me lembrar, percebi que em momento algum eu soube o nome dela.
  Mal sabia ela que tipo de Anjo era eu. Na verdade, nunca um Anjo da Guarda.
  Eu era Tales!
  O Vampiro da Guarda...

Continua...



sábado, 7 de maio de 2011

* O Filho da Noite *

-Não posso me sentir mal!-gritei, em frente ao espelho.
A Luz amarelada do banheiro não se fazia necessária, mas, por força do hábito, eu a mantive acessa.
Minha Pele, extremamente branca, parecia ganhar cor com a Luz refletida em meu rosto.Meu sobretudo preto já estava jogado por sobre a cama e agora eu tirava a camiseta.Sorri satisfeito ao me olhar no espelho de corpo inteiro, na outra parede do meu quarto...Ombros largos, braços grossos, barriga definida, peitoral irijecido...Perfeito!
Ainda parado ali na frente do espelho, percebi, no canto da boca, uma mancha...Vermelha...Sangue...
-Merda!-resmunguei, usando a camiseta que eu tirara para limpar a mancha.-Eu disse que ele podia levar o carro e me deixar ir embora...Mas não!Ele queria me levar também.Disse que me achou com cara de filhinho de papai, que ia conseguir uma grana com meu sequestro...Mas quando ele entrou no carro...
Eu ri sozinho, como se contasse o ocorrido para alguém.Eu ainda estava em frente ao espelho.
-Posso sentir o cheiro de medo que vinha dele...Os olhos arregalados daquele infeliz...


* * * *
Com uma arma em mãos, ele entrou no meu carro, sentando-se no banco do passageiro.Ele me ameaçava o tempo todo, dizendo que iria me matar...
-Me matar?
-Anda logo!Faça só o que eu mandar!
Ele nem percebeu quando aconteceu, mas meus caninos já estavam à mostra e meus olhos brilhavam qual fogo.
-Que porra é essa, viadinho?
-Vou chupar seu sangue, infeliz!
-Ah tá...-ele riu, nervoso.-Vou te mostrar o que você vai chupar...
Ouvi o zíper da calça abrir, mas ele nem ao menos chegou a tocar seu membro...Puxei o braço dele e torci sem esforço e ouvi ossos quebrando.
Ele me olhou com medo...Meus olhos ainda brilhavam escarlatess e meus caninos brancos qual marfim marfim saltavam à boca.
-Que diabos é você?
-Tales, meu caro...Sua última vítima!
Não dei chances para ele se defender.Com a mão que eu tinha livre, quebrei-lhe o pescoço e lhe sorvi o sangue vivo...
* * * *
Voltei ao quarto...Parei em frente ao guarda-roupas e observei as corretntes que o selavam...Prata...
Bati na porta duas vezes...
-Eu poderia fazer o mesmo com você, Oriental...Mas você talvez não morreria...Agora, você só morre caso alguém lhe corte a cabeça ou lhe jogue em uma fogueira...
Ao lado do guarda-roupas, uma cômoda sevia de base para aquele grande molho de chaves.Peguei-o.Abri o cadeado que segurava as correntes...
Lá estava ela...A pobre moça Oriental...Vestida como uma personagem de mangá.Seus olhos negros, contraditoriamente enormes, choravam...Ela me olhou triste...
-Eu sei, Oriental...-eu disse triste, vendo-a triste.-Sei bem o que está sofrendo...Mas você é uma de nós agora...Também é um Filha Da Noite...
Estendi a mão para ela.Amedrontada, ela segurou minha mão pálida, mas quente com o sangue que acabara de sorver...
-Venha comigo...Está na hora de você aprender a caçar, Oriental...Vou te ajudar...
Continua...

terça-feira, 3 de maio de 2011

- Para Refletir -

Antes de começar o texto, devo dizer que este mesmo já foi "publicado" antes no meu Blog antigo* e não sei quem é o autor dele.Lembro que li em algum lugar e resolvi colocar lá, no de antes.
http://thiagotad.blogspot.com/ )

Trouxe ele pra cá, pois acho ele muito interessante e, como sugere o título do POST, é mesmo PARA REFLETIR...


Vi meu filho chegar da escola naquela tarde com uma cara feia, emburrado e nervoso... Chamei-o e ele foi logo dizendo:
-Nem enche Pai!
Algo estava errado, era óbvio!Mesmo com ele resistindo, sentei-o no sofá. Tinha que falar com ele, um garoto tão jovem como ele revoltado daquele jeito?Em plenos nove anos de idade já assim...
-Diz pra mim, filho... O que foi que aconteceu?
-Aquele idiota do Marcos... -Quem seria Marcos?-Sempre me irritando, tenho raiva dele!Eu vou me vingar dele ainda!Ah se vou!
Eu bem podia imaginar o que estava acontecendo... Quem nunca passou por coisas assim na infância?
Tive uma idéia e levei o menino até o quintal. Deixei-o sentado na varanda enquanto fui até a cerca, do outro lado do quintal. Com um cabo de vassoura, fiz um boneco e levantei-o, junto à cerca de madeira. Voltei até a varanda, peguei um saco de carvão, abri e chamei meu filho...
-Vamos fazer uma coisa... Imagine que aquele boneco seja o tal menino que te irrita tanto... E esse saco de carvão são todas as coisas que você quer dizer pra ele, tudo aquilo o que você quer se vingar dele... Vá até um ponto do quintal e jogue todo o carvão nele!
-Pra que isso, Pai?
-Vai lá... Faz isso...
E lá se foi o menino. Dali da varanda, eu o lembrava de como o tal menino da escola o irritava, de como ele se sentia nervoso com o tal Marcos. Conforme eu falava as coisas, ele sentia-se cada vez mais furioso e jogava os carvões com mais e mais força, com mais raiva...
Assim que o saco de carvão ficou vazio, ele me olhou com interrogação nos olhos. Dali onde eu estava, perguntei:
-Como se sente?
-Sei lá... -disse ele com desdém. -A mesma coisa.
Eu já havia premeditado isso e levei um espelho para ele se olhar. Assim que ele se olhou no espelho, assustou-se...
-Pai! Estou todo sujo!Que horror!
-Pois é exatamente o que eu queria que você visse, filho...Assim é o que acontece na vida também...Além de você não melhorar em nada, quando você se vinga ou ofende alguém, você se deixa sujo.As coisas ruins daquilo que você joga no outro fica com você mesmo!Pense direito em como se vingar, se é que você deve se vingar de alguém...Vá tomar banho!

Reflita...Quantos carvões você tem jogado por aí?