sábado, 28 de agosto de 2010

CONTO - "The Love is Gone" - por Thiago Assoni


O revólver caiu ao seu lado assim como parecia acontecer com sua alma ou tudo que parecia haver dentro de si...
Seus olhos se desmanchavam na maquiagem negra e perfeita de outrora. O batom se misturava ao vermelho do sangue que havia entre seus dedos.
O vestido preto se abria no chão, deixando o scarpin no tom da boca amostra. E o corpo de seu amado jazia ainda quente ali na sua frente.
Ela ainda tremia quando tentou arrumar seus longos e volumosos cabelos loiros no espelho que pendia da parede em 90°.
Pegou as chaves do carro dele e saiu do quarto. Na sala, bebeu de uma só fez o restinho do uísque que tinha no copo que repousava sobre a mesinha de centro.
As rosas também estavam ali, assim como o corpo da amante. Essa última que abriu a porta, vestida somente com a camisa flanelada que ela, a assassina, dera para o fulano que agora esfriava no piso do quarto.

***

Colocou a chave no contato, girou e não ouviu nenhum ruído sair do motor. Abriu o portão automático e logo ganhou as ruas.
Não se atentou aos carros que buzinaram quando ela passou direto pelo cruzamento. Não olhou o sinal vermelho um pouco mais adiante.
“Cinco anos de namoro.” - pensava ela.
Eles comemorariam cinco anos de namoro naquela noite. Pelo menos para ter sido assim.
Afundou o pé no acelerador e via as ruas ficando para trás cada vez mais rápido. Costura entre os carros, continuava avançando os faróis vermelhos... 
Estava cega de ódio, rancor e amargura. Não conseguia acreditar no que ele fizera. Não conseguia acreditar no que ela própria tinha feito.
Era dor demais para aguentar. Isso não podia acontecer, nada deveria ter sido assim...
As lembranças doíam demais e as lágrimas inundavam seus olhos, deixando sua visão cada vez mais turva. 
Ainda assim, continuou com o carro em alta velocidade. Ela sabia o que buscava agora, pois não conseguiria viver mais depois daquele dia.
E tudo o que ela queria, enfim, aconteceu...

***

A Cegonheira tinha aproximadamente vinte metros de comprimento. Na velocidade a qual estava, seria mesmo fatal!
E tudo foi rápido demais...
O som dos pneus freando, ferro retorcido, vidro quebrando...
Eles se perderam...
O Amor se foi...



domingo, 22 de agosto de 2010

* * *



Sentei e vi a chuva através do vidro embaçado da janela do meu quarto...

Há quanto tempo eu estava ali?

Bom, eu podia me lembrar do Sol que vi do mesmo lugar quando os lençóis ainda estavam perfeitamente alinhados no colchão...De quando meu rosto ainda era seco, meus olhos enchergavam com algum foco e meu coração não sangrava assim como agora.

Já era noite, quase madrugada.

Não havia Lua, nem estrelas...A casa vazia se fazia monstruosa, deixando com que os trovões ecoassem por entre os corredores.

Mais uma vez, eu estava sozinho de novo!

Eu não me importava em deixar meu Sneaker verde musco sobre o lençol branco...Não me importava com a escuridão ao meu redor e nem mesmo com a música triste que tocava no rádio.

Tudo o que eu queria era parar com aquilo.Parar de chorar, parar de me sentir fraco, pequeno e tão frágil, pois sabia que aquele não era eu!

Talvez fosse um castigo.Quantas pessoas gostaram de mim e eu as fiz sofrer?Mesmo por ele, fiz alguém chorar...

Amaldiçoado.Talvez fosse isso!Eu não poderia Amar.Sempre sofrendo ou vendo alguém sofrer.Sempre ferindo, sangrando, chorando...Morrendo...

A chuva caia assim como as muitas lágrimas de meus olhos...Meu rosto lavado, bestamente...Era inútil agora.Nada poderia voltar a ser como antes.Quem deveria sofrer, já sofreu...Quem deveria chorar, já chorou...

E agora era hora de eu chorar tudo o que queria.Era o momento de matar tudo o que sentia para viver um novo dia amanhã...O Sol sempre surge após uma Noite chuvosa.Nem sempre vem um lindo arco-íris, mas um novo dia vem, sempre vem...

E eu chorava...Tremendo e me acabando, mas eu chorava.Tudo pelo que estou vivendo...Querendo logo um novo Amanhã e lembrar de que após o choro, vem um sorriso.

Eu tenho um único e grande Amor, sempre, todos os dias e esse jamais vai me deixar...Posso sempre encontrá-lo, no momento o qual eu quiser.Basta parar e olhar para um reflexo...Eu estarei lá, meu único e verdadeiro Amor.

Sentei e vi o Sol através do vidro brilhante da janela do meu quarto...

Amanhã talvez eu chore...A Noite vai chegar de novo e eu estarei sozinho outra vez...

Que assim seja e assim se faça...

Abençoado seja!


Acho que estou meio tosco ultimamente, mas aí está...