quinta-feira, 15 de abril de 2010

Álvaro De Campos


Quando olho para mim não me percebo.
Tenho tanto a mania de sentir
Que me extravio às vezes ao sair
Das próprias sensações que eu recebo.

O ar que respiro, este licor que bebo
Pertencem ao meu modo de existir,
E eu nunca sei como hei-de concluir
As sensações que a meu pesar concebo.

Nem nunca, propriamente, reparei
Se na verdade sinto o que sinto. Eu
serei tal qual pareço em mim? serei

Tal qual me julgo verdadeiramente?
Mesmo ante as sensações sou um pouco ateu,
Nem sei bem se sou eu quem em mim sente.

* * *

Na verdade, Fernando Pessoa.
Álvaro de Campos é mais um dos seus Três Heterônimos.
Seria este um rapaz futurista, emotivo e reclamão.Chato e meio insuportável, em certos pontos.Normalmente, este é o "personagem" de Fernando Pessoa que os góticos mais admiram, por ter essa queda ao confuso e irreal.Não é regra.

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